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Análise

A análise, em poucas palavras, pode ser definida como um modo de pensar que emerge da relação entre analista e analisando (paciente). Em outras palavras, é um método que busca auxiliar a pessoa, através da fala e da escuta, a reorganizar a sua relação consigo mesma.

Trata-se, portanto, de uma relação entre analista e paciente que também é uma experiência de cura. Por esse motivo que Jacques Lacan propõe um retorno à cultura helênica, ao definir a ética psicanalítica como uma ética pré-moderna, remontando ao trágico, à Tragédia Grega. Compreendendo o caráter fatalista da existência, mas também a concepção de cuidado de si na ética do cuidado e dos saberes, como disse Michel Foucault, enxergando a "vida como uma obra de arte".

A análise também é uma experiência de confrontação com a “verdade” e de crítica das relações de poder, de possibilidade de alcançar a verdade do desejo através de uma experiência de linguagem.

Neste sentido, a atuação do analista pode ser sintetizada como auxiliar no processo de cura psicanalítica. Essa cura não se identifica com a cura médica, a partir da simples remoção de sintomas, mas de uma cura que tem que ver com a relação do sujeito com seu desejo.

Outra dimensão da prática analítica se relaciona às técnicas de linguagem e à produção de escuta que se relacionam com a poesia, por vezes com a música e têm relação também com os jogos de linguagem. Da parte do analista, trata-se de uma escuta poética, no sentido de que aquilo que precisa ser dito para o paciente depende da forma, do tempo, da intensidade de como se escuta, de como é devolvida a escuta ou de como se silencia a partir do que foi escutado.

Muito resumidamente, a análise pode ser considerada como uma técnica de palavra.

A origem dessa técnica, na modernidade, pode ser observada em “O nascimento da clínica” (Foucault, 1963), que remonta às últimas décadas do século XVIII em conjunto com uma série de instrumentos que possibilitaram o seu funcionamento, como uma diagnóstica (noção chave de sintoma), uma etiologia (compreensão de sintomas próprio da psicanálise) e uma semiologia (compreensão dos signos de linguagem utilizados para descrever o sintoma). O princípio elementar da análise psicanalítica é conseguir a articulação desses três procedimentos, escolher e definir quais são os signos de linguagem que contam algo sobre o próprio sujeito.

O que esperar da análise

Como todas as pessoas são únicas, o processo analítico é igualmente singular. Nesse sentido, a psicanálise é um método para tratar o sofrimento psíquico humano, buscando a cura.

Construída a partir da relação entre analista e analisando, a análise como método de tratamento tende a proporcionar um ambiente acolhedor em que se pode, e se faz necessário, falar tudo que vem á mente, sem críticas.

Afinal é através da linguagem que se comunica sobre si e também é por meio dela que se pode falar de tudo aquilo que faz sofrer. Neste sentido, o analista será quem dará auxílio nesse processo de cura pela palavra, dando suporte e ao mesmo tempo desacomodando. O processo analítico pressupõe mudanças estruturais, no modo como a pessoa se vê o observa o mundo a sua volta.

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Teoria

De modo bastante sintético separo, a seguir, um apanhado com alguns dos pensadores que embasam a minha abordagem. Trata-se de um “sobrevoo rasante” sobre pensamentos e pensadores que são articulados de modo muito mais profundo do que esta apresentação. Contudo ela serve por seu caráter ilustrativo.

A teoria que embasa a minha prática analítica tem uma frase de início: es Denkt in Mir. Friedrich Nietzsche quando disse isso compreendeu que ele próprio não era um ser “dono” de seus pensamentos, no sentido de ter controle do que pensa. Ele entendeu que “algo pensava nele”. Mas o que seria esse “algo” que muitas vezes pode ser observado pensando através de si?

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Mais tarde Sigmund Freud ao teorizar o inconsciente e seus muitos aspectos, talvez involuntariamente, retoma a inquietação de Nietzsche. Mas é possível atribuir ao inconsciente esse “algo” que pensa através do sujeito e, de certo modo, pode ser “observado”?

De certa forma, sim, pois Freud compreende que “não se é senhor em sua própria morada”, ao não conseguir ter pleno controle sobre os processos mentais relacionados ao Eu. Seria a sua constatação pessoal da observação de que “algo pensa em mim”, sem que se consiga controlar esse fluxo de pensamentos.

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E o que pode ser dito “disso” que pensa através do sujeito e que faz não ser senhor na própria morada? Traduzir pensamentos e sentimentos em palavras não é uma tarefa simples, muitas vezes podem faltar palavras para descrevê-los e isso não significa, necessariamente, uma limitação intelectual ou de quão vasto é o vocabulário alguém.

Pode-se estar no limite da linguagem. Como Ludwig Wittgenstein entende que “os limites da linguagem denotam os limites do mundo”, é compreensível a falta de palavras para expressar com exatidão o que se sente ou pensa, pois se pode estar diante de uma fronteira entre a realidade da racionalidade e daquilo que irrompe das manifestações do inconsciente.

Por vezes se tenta explicar um sonho ou um sentimento e quando se fala sobre, sente que não conseguiu expressar exatamente como foi o sonho, como se sentiu etc. Porém essa limitação não é absoluta, pode ser o caso de estar tentando compreender algo da ordem dos afetos com o racionalismo.

Arturo Fatturi - Investigações Filosófic

Jacques Lacan entende que “o inconsciente se estrutura como uma linguagem”, desse modo, e retornando a Freud, pode-se concluir que existem maneiras de se questionar sobre esses sentimentos que são abstratos às “traduções” racionais. Ferramentas como os sonhos, os chistes, os atos falhos etc., podem compor esse ferramental, bem como a ciência, a filosofia e a arte. Poemas, filmes, músicas, fotos, literatura etc., são modos de buscar “traduzir” e expressar com aproximações e analogias o que se sente e como se sente.

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Mas porque tentar utilizar da arte como ferramenta analítica na busca por redução do sofrimento, para a cura ou para o autoconhecimento, e não como uma ferramenta de construção da própria realidade?

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Neste sentido, Michel Foucault questiona porque não seria possível tornar a própria existência em uma obra de arte? A “vida como obra de arte” é uma possibilidade a partir do momento em que se assume uma ética do cuidado de si que visa observar os jogos de linguagem que sujeitam o ser na linguagem, bem com compreender as relações de poder que tornam o sujeito ser no mundo.

Não se trata de uma busca por esquadrinhar aquilo que pensa através do sujeito, na tentativa de compreendê-lo ou colocá-lo em uma rédea, mas de assumir a possibilidade criativa de construção da existência à medida que aquilo que fala através do sujeito se manifesta.

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Muitas vezes o que traz a pessoa à psicanálise pode ser o sofrimento e a dor, como foi o caso da Virgínia Leone Bicudo, mas também, ainda com o exemplo dela, é possível transformar a própria realidade ao se dispor a realizar esse movimento de cura e conhecimento proporcionado pela análise.

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Essa perspectiva é motriz para a transformação social a partir da mudança que se instaura na própria vida do sujeito. Do mesmo modo como Frantz Fanon fala no final de “Pele negra, máscaras brancas”, o seu lugar não é pré-determinado pela História geral, mas por uma postura diante dela, afinal, ele diz, “no mundo em que me encaminho, eu me recrio continuamente”.

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